Representatividade e dedicação: conheça a jovem de 15 anos eleita Miss Afro Feira 2023

Natural de Feira de Santana, Geisa Borges de Lima tem apenas 15 anos e está cursando o 2º ano do Ensino Médio com bolsa de estudo na Escola Sesi. Ela foi escolhida entre 16 candidatas como Miss Afro Feira 2023.

“Eu não me imaginava participando de um concurso como este que é o Miss Afro, eu até dizia que não era uma carreira que deslumbrava de forma profissional, mas a minha inclusão neste projeto começou neste ano e digo que eu sempre tive dificuldades em enxergar minha beleza e não acreditava que poderia vencer qualquer concurso. Por influência da minha irmã que estava pesquisando sobreo movimento negro feirense, descobriu o Movi Afro e me apresentou”, disse.

Geisa também contou que durante o processo do concurso, pensou várias vezes em desistir, já que não estava conseguindo conciliar com os estudos.


“Durante o processo do concurso, as minhas demandas foram se misturando com o processo e tive muitas dificuldades em lidar com tudo aquilo e minha vontade era apenas de desistir, mas tive o apoio da minha família que foi essencial para que chegasse até aqui. A representatividade desempenha um papel fundamental neste concurso, porque é mais do que apenas uma celebração da beleza e do talento das mulheres afrodescendentes, é uma plataforma poderosa que busca reafirmar a importância da diversidade e da inclusão em nossa sociedade, pois oferece que as pessoas participantes possam mostrar sua identidade cultural, a valorização das raízes africanas e o concurso proporciona visibilidade e empoderamento das mulheres negras. Nós merecemos ser vistas, ouvidas e apreciadas”, contou.

Ainda em ritmo de comemoração, Geisa contou ao Acorda Cidade que não acreditou que tinha sido a vencedora e a famosa ‘ficha’, está caindo aos poucos.


“Confesso que no momento que recebi a notícia, nem acreditei, tanto que no dia seguinte eu acordei e pensei que fosse um sonho, porém depois vi as mensagens das pessoas me parabenizando e posso dizer que ainda estou nesse processo de cair na real, mas sempre me emociono em perceber que tudo isso representa não só para Geisa de antes, mas para a minha família, minha comunidade, me sinto cumprindo um grande propósito e grata por ter a oportunidade de honrar as lutas dos meus ancestrais. Ainda não tenho planos futuros, mas sei o que Deus vai me colocar nos locais que eu devo estar”, concluiu.

Concurso Miss Afro
Foto: Divulgação

Segundo Para o Coordenador Geral da Associação Cultural Moviafro e Coordenador do concurso, Val Conceição, o projeto já chegou a ter mais de 200 candidatas.

“Este concurso Miss Afro é realizado desde o ano de 2017 e agora atingimos a sexta edição. Lembro que começamos naquele período com apenas 40 meninas e já tivemos edições com 212 inscritas, como foi no ano de 2021, já neste ano tivemos 157. Isso mostra a representatividade de Feira de Santana que é uma cidade negra, uma cidade que foi construída e é construída diuturnamente por mãos de homens e mulheres negras. Nós chamamos a atenção da sociedade para a importância dessa cultura de matrizes africanas. Sabemos também que Feira de Santana ainda é uma cidade conservadora, preconceituosa, mas o Miss Afro vem com essa perspectiva de desconstruir o estereótipo, desconstruir algumas ideias que infelizmente ainda existem”, relatou.

Concurso Miss Afro
Foto: Divulgação

Para Val Conceição, o projeto é mais do que um simples concurso.

“A gente costuma dizer que o Miss Afro é mais do que um concurso, porque por exemplo, nós começamos em janeiro com as inscrições e todas as candidatas tiveram quatro meses de preparação, ou seja, elas passam por uma avaliação, por rodas de conversas, palestras, seminários, oficinas, minicursos, são avaliadas durante todo este período até que a gente vai credenciando aquelas que vão tendo uma pontuação melhor para a fase seguinte até chegar na final. Diferente de muitos concursos de beleza que priorizam a beleza física, a beleza estética, o nosso não, nós oferecemos acesso às informações para todas estas candidatas . É algo emocionante, é gratificante de poder trabalhar com meninas tão novas que muitas vezes não possuem tantas informações, ainda não sabem o que querem, estão fazendo por fazer, mas só depois que começam a perceber a importância do concurso e quando chegamos na final, percebemos como é a diferença daquela pessoa que chegou e como está saindo”, concluiu.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O negrume da noite, reluziu o dia. Ilê Aiyê e Cortejo Moviafro, fazem história na micareta de Feira de Santana.

A Moviafro é uma mulher preta.

Núcleo Moviafro de Teatro Preto, busca equidade nos palcos.